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Entenda como o sobe e desce da bolsa impacta os brasileiros, incluindo os que não investem

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  • 17 de set.
  • 6 min de leitura

Com melhoria da bolsa, investidores recuperam confiança e empresas expandem negócios


Por Larissa Maia, Valor Investe — São Paulo

A bolsa brasileira teve o melhor trimestre em 1 ano. E mesmo quem não participa do mercado de ações pode sentir os efeitos quando há uma melhora no cenário da bolsa brasileira. Isso porque os benefícios respingam em ganhos para a economia como um todo, incluindo aqueles que acham que não tem nada a ver com a bolsa e nem investem, explicam especialistas. O mesmo vale para o cenário contrário.


O efeito da alta da bolsa para o público que não é investidor não é instantâneo, explica Ricardo Rochman, professor do Centro de Estudos em Finanças da FGV EAESP, mas gera impacto positivo a curto, médio e longo prazo com a movimentação na economia.


A curto prazo, quem é investidor e tem o patrimônio aplicado, vê o patrimônio subir e acaba consumindo mais, utilizando o excedente. Quando esse investidor gasta mais, beneficia uma cadeia inteira com seu consumo, como comércio e indústria.


A médio e a longo prazo, os especialistas mostram diversos cenários em que o brasileiro é beneficiado por um avanço na bolsa brasileira, como geração de emprego, investimentos no país e até sobre o fornecimento de crédito.


No entanto, como diria o ditado: uma andorinha só não faz verão e há outros fatores, associados ao próprio cenário macroeconômico do Brasil, que influenciam a melhora ou piora da percepção local. Na avaliação do professor, porém, um movimento positivo da bolsa “atenua” os fatores negativos no cenário, explica Marcos Piellusch, professor de finanças da FIA Business School.


“Se de um lado tem essa espécie de estímulo porque as empresas têm mais condições de captar dinheiro para investir, por outro lado, as taxas de juros estão altas, há riscos no ambiente doméstico, risco de problemas fiscais com o governo, inflação, entre outros, o que contribui negativamente”, diz o professor.


O que é a bolsa e por que as empresas estão nela?


A bolsa de valores é o caminho que as empresas têm para captar recursos para realizar investimentos em novas tecnologias, equipamentos, expansão de negócios. Quando a bolsa está subindo é um sinal positivo que os investidores estão querendo comprar títulos das empresas e, com isso, as empresas encontram na B3 um caminho mais barato e com possibilidade de maior captação de volume dos recursos, explica Rochman.


Com isso, as companhias tiram projetos de investimento da gaveta e, conforme as empresas vão investindo, vão expandindo e criando empregos, oferecendo novos produtos e serviços para a sociedade, pontua o especialista.


Por isso, este cenário de avanço da bolsa não pode ser visto, “de forma alguma, como uma destinação de recursos para o mercado financeiro”, já que a repercussão de uma melhora na bolsa reflete para além de quem está investindo, diz Piellusch.


“Quando uma empresa vai lá e emite ações, faz um IPO (oferta inicial de ações na bolsa), por exemplo, ela está captando recursos para poder investir, contratar pessoas, comprar equipamentos, fazer girar a economia. Então, indiretamente, quando a bolsa tá em alta, significa que tem um incentivo e vai dando condições para que as empresas invistam mais”, explica.


Em um movimento contrário, de queda da bolsa, por exemplo, as empresas não têm incentivo para emitir mais ações, o que acaba desincentivando também o investimento e a contratação de pessoas.


O que faz a bolsa subir e descer?


Há alguns fatores, segundo os especialistas, que explicam o sobe e desce da bolsa. Um é o crescimento saudável, quando há perspectiva de melhora na economia; outro é um movimento especulativo do mercado, "o que pode gerar bolhas de investimento", diz Rochman. Isso acontece quando a bolsa sobe, mas não tem fundamento para esta alta e mais cedo ou mais tarde "a bolha estoura, o que pode criar prejuizo pra todo mundo e gerar, inclusive, crises econômicas", detalha o professor.


"No entanto, na avaliação dele, os sinais da bolsa subindo agora "são positivos". "Parece que tem investidores do exterior voltando para o Brasil, o que é um bom sinal. Mais dinheiro vindo para a nossa economia ajuda a crescer. Estamos começando a formar algum cenário positivo”, comenta.


A bolsa também pode se valorizar ou desvalorizar a depender do cenário exterior, impactada por tarifas, conflitos geopolíticos, que podem elevar a percepção fiscal e trazer uma "correção", ou seja, um retorno ao patamar anterior, explica Piellusch. Mas na prática, como isso afeta quem não é investidor?


Investimento estrangeiro


Com a bolsa sendo bem vista por bancões, o olhar do investidor estrangeiro segue o mesmo caminho. Segundo os especialistas, os investidores estrangeiros estão voltando sua atenção para mercados emergentes, como o Brasil, devido a expectativas de crescimento do país.


E com a taxa de juros dos Estados Unidos mantida pelo Fed na reunião da última quarta-feira (20), os investidores estrangeiros ficam mais propensos à renda variável, já que o “maior volume de recursos aplicados é em renda fixa dos títulos americanos”, explica Piellusch.


“Quando o investidor vê que essa taxa de juros diminui, ele vai procurar outra coisa. Então a possibilidade de queda da taxa de juros lá pode trazer mais dinheiro para cá, o que pode ajudar nesse movimento [de alta da bolsa]”, diz o professor.


E é realmente esta a percepção. O Brasil tem sido enxergado como atrativo entre os mercados emergentes, segundo o J.P. Morgan, Morgan Stanley e Bank Of America (BofA).


Em março, o J.P. Morgan elevou sua recomendação para as ações brasileiras de “neutro” para “compra” apontando que o cenário global passou a beneficiar o Brasil, desde que os Estados Unidos não entrem em recessão. Além disso, para o banco, como o Brasil pode estar mais próximo que o esperado do fim do ciclo de aperto nos juros, esse pode ser “um gatilho muito importante para as ações”.


Já segundo relatório do BofA, o percentual de gestoras que esperam que o Brasil possa ter uma performance superior aos demais países da América Latina, como o México, cresceu em março e ultrapassou os 60%. Enquanto para o Morgan Stanley, o investimento no Brasil é uma “oportunidade atraente”.


Confiança na economia


Por outro lado, a valorização da bolsa e o interesse de investidores também geram “um ambiente econômico mais favorável no nosso país”, com retorno da confiança, o que atrai novas empresas a expandirem suas operações, “potencialmente gerando mais oportunidades, empregos e renda para a população”, explica Abimael Carvalho, especialista em direito empresarial.


O atual cenário, a Selic, taxa básica de juros —atualmente em 14,25% (maior nível desde 2016) — e a inflação acabam impactando o consumo e reduzindo o poder de compra.


“A pessoa não consegue, com os ganhos que tem, com o aumento do salário, correr atrás do aumento de preços. Então a alta da bolsa pode ter efeito positivo, mas os juros altos dificultam o consumo de bens, principalmente duráveis, como comprar uma geladeira à prazo e parcelar uma roupa”, pondera Piellusch.


Moeda brasileira mais forte


Segundo Carvalho, há também uma valorização do real com a entrada de investimentos do exterior e a tendência em aumentar a demanda pela moeda brasileira, o famoso oferta x demanda. Um real mais forte, diz ele, significa que os produtos importados podem ficar mais baratos, beneficiando os consumidores que compram esses itens. Já com mais dinheiro circulando na economia, há um aumento na demanda por produtos e serviços.


No entanto, se a oferta não acompanhar essa demanda, os preços tendem a subir, afetando diretamente o custo de itens do dia a dia, como alimentos e bens de consumo, detalha o especialista, o que pode resultar em inflação, elevando os preços de itens essenciais da cesta básica.


Impacta no fornecimento de crédito


Há também o impacto na facilidade e no custo do fornecimento de crédito no país, explica Piellusch, já que o crédito não composto apenas pela taxa de juros. “Tem um fator de risco também”.


Na pandemia, exemplifica ele, as taxas de juros estavam baixas, mas o risco era alto porque a chance de inadimplência era maior, o que dificultava o fornecimento de crédito por parte dos bancos. No entanto, se o cenário é de maior confiança, os bancos e as empresas varejistas que têm operação financeira “também vão ficar estimulados a dar crédito”.


Geração de emprego


E uma coisa respinga na outra: em um ambiente mais favorável, as empresas se expandem, o que favorece a contratação no país. Mas isso, diz Piellusch, é apenas um dos fatores que impulsiona a geração de emprego e para entender se há possíveis benefícios com a alta da bolsa é preciso analisar o contexto macro, como a própria desvalorização da bolsa a longo prazo, tornando a bolsa "barata atualmente”, cenário fiscal do país, entre outros.


Impacto em outros investimentos


A alta da bolsa pode refletir ganhos também aquele brasileiro que investe, mas não necessariamente em ações. Piellusch explica que o movimento da bolsa afeta quem tem, por exemplo, fundos multimercados e fundos de pensão, que alocam recursos em ações de empresas, imóveis, títulos, entre outros.


“Indiretamente, essas pessoas também vão ter uma valorização do seu patrimônio e, consequentemente, vão ter melhores rendimentos ou uma melhor aposentadoria”, explica o professor.


Neste caso, explica Rochman, esses outros investidores "tem uma contaminação positiva", mas não são impactados "na mesma velocidade que a elevação da bolsa".



 
 
 

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